Já não é o que foi, este elemento de equipamento rural, antigo moinho de vento. Degrada-se lentamente, sendo tomado pela ruína. Ainda permanecem no local escassos pedaços deste moinho, mas do que se encontra em pé, pode ver-se aspectos construtivos de uma arquitectura assente nos conhecimentos ancestrais, que a tecnologia moderna aniquilou, estando aos poucos a recuperar-se alguns desses saberes e reverter muitos dos erros que se cometeram.
Voltando ao edifício, construção de planta circular, pode ver-se a porta de entrada, acesso único pedonal, com ombreiras e padieira bem definidas, interrompendo uma grossa parede que apresenta uma espessura mais elevada no que seria o peso térreo e no que seria o piso superior, a parede é menos espessa, deixando perceber um ressalto onde apoiaria um soalho de madeira, local onde se operava a mó e o engenho. O estado de degradação não dá para perceber quantas janelas teria o moinho…
Um grupo de amigos movidos pelo mesmo hobby, a fotografia, encetaram uma jornada a Pitões das Júnias à procura da documentação imagética para memória futura.
Na aproximação a Pitões das Júnias, momento para contemplar o enquadramento da aldeia na paisagem. A serra, os campos e as habitações, formam um conjunto uníssono. A ruralidade é uma realidade preservada, evidente na arquitetura vernacular, mas que sinais da evolução, começa a apresentar sinais de modernidade.
As intervenções, algo pitorescas, não deixam de evidenciar alguma graça, mantendo uma evolução erudita mas fruto dos sinais do tempo. Aparte disso, também está presente um outro sinal, algo preocupante, denotado pelas ruínas que aparecem aqui e ali, mas que muitos ainda teimam em contrariar, que é a desertificação. Prova disso são os residentes que mostram que ainda vale a pena viver neste canto de Portugal.
E para que os residentes possam sentir força em preservar o que é tradicional, necessitam que seja valorizado o que fazem. Ao visitar Pitões das Júnias, encontramos um Museu que mostra muito do que já não tem uso e que as gerações mais novas desconhecem. É um espólio de memórias de tradições e costumes que se vão perdendo e que aqui deixo uma pequena amostra do espólio distribuído em dois pisos.
Na visita à aldeia deparamos com alguns residêntes que não se furtam a dar a conhecer alguma da sua história.
Os descendentes, os que trabalham nos estabelecimentos e os que trabalham o campo, adaptados à tecnologia do presente, vivendo em recônditos lugares, detém o acesso ao progresso e enriquecem-se com a sua herança cultural. Vivem no meio daquilo que muitos desconhecem, mas que se acham conhecedores.
E depois, aqueles que movidos pelo gosto de fotografar, fazem com que se crie memória futura. Registam generalidades e detalhes num complemento à memória, com o sentido da divulgação, num ato voluntário de aculturação dos que os rodeiam. Mostram o que vêem e convidam a que vão apreciar a realidade. Porque por muito boas que as fotografias sejam, a realidade é sempre mais interessante.
É então que surgem detalhes de natureza, duma flora diversa onde estes detalhes da flor de açafrão deixam trabalhar alguma criatividade do enquadramento.
E por tudo que nos rodeia, a paisagem é deslumbrante, de tal forma que uma estrada inerte, despida de qualquer beleza, apela a beleza da paisagem que a envolve. E é rica essa paisagem por tudo que a preenche. Os rochedos que denunciam o quão agreste é este meio, são embelezados por algumas árvores como se de uma jarra de flores se tratasse no airoso adorno de uma mesa.
E é isto que motiva o fotografo a experimentar um registo em modo monocromático para poder observar os contrastes de preto e branco, adoçados com os cinzentos.